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Foto do escritorDa Chic Thief

Entrevista #103 SUPERLINOX

PT

Superlinox já foi chamado por muitos de Banksy português.


Depois de ter tomado de assalto a cidade de Setúbal, de onde é natural, o escultor não tem parado de surpreender com as suas obras estrategicamente colocadas nos centros urbanos.



O importante é chamar a atenção e passar a mensagem e, com as suas esculturas e objetos do quotidiano pintados com cores garridas, Superlinox retrata o estado da educação, a escassez de habitação, a guerra ou a Liberdade.



Foi em 2021, quando começámos a desconfinar, que fiquei siderado com a sua peça que juntou a inocência de uma criança à brutalidade de um canhão, numa alusão ao sofrimento das crianças em cenários de guerra.



Passados 2 anos, consegui finalmente entrevistá-lo.


Como surgiu o nome Superlinox?


Durante a madrugada, a jogar wildlands online com um amigo, há uns anos atrás.


O teu epicentro é Setúbal (de onde saíste por “falta de oportunidades”). Onde pensas chegar com a tua arte?


Na verdade, antes de começar a plantar esculturas em Setúbal, já vivia em Lisboa há vários anos. O meu epicentro não é Setúbal há muito tempo. Se calhar também nunca foi. Nem Lisboa será. O meu epicentro é a minha alma e o meu coração. Tudo o resto é relativamente secundário.



Referem-se a ti como o Banksy setubalense. O que sentes relativamente à comparação?


Para mim, o Banksy representa a verdadeira definição daquilo que acredito que a Street Art deve ser. Encaro como um grande elogio, evidentemente. No entanto, eu não sou o Banksy e não quero ser outra coisa se não eu próprio. A nossa identidade é o nosso bem mais precioso.


És licenciado em Belas Artes, na vertente de Escultura. A arte é aquilo que sempre quiseste fazer?


Quando entrei na Faculdade de Belas-Artes era um adolescente como outro qualquer: acreditava que depois do ensino superior arranjava trabalho. Por essa razão, a minha opção inicial foi design de comunicação. Porém, espalhei-me no exame de geometria e não alcancei nota elevada o suficiente para entrar em design. Diziam-me: “o que é importante é entrar na Faculdade, não interessa em que curso”. Acabei por entrar em Escultura, um universo que me era totalmente desconhecido. Entretanto apaixonei-me pela Escultura e toda a minha vida começou a mudar.



Cresceste no universo do graffiti “maldito”. O que te levou a dar o salto para esta “arte de guerrilha”?


O Graffiti quando é maldito é que é bom e verdadeiro! Nunca foi propriamente o Hall of Fame que me inspirou a fazer Graffiti. Para mim, o Graffiti é sobretudo uma atitude e um mindset. Antes de ser pintura, é acção ou performance. O que tenho feito na rua com escultura não é Graffiti? Usufruo das liberdades de criar as esculturas que bem entender; de as instalar onde bem entender e quando bem entender. O Graffiti não existe sem diversos impulsos de emancipação pessoal. É verdade, o street bombing é feito no local e geralmente resulta na elaboração tipográfica, mais ou menos rigorosa, de um nome (tag). Não trabalho com tipografia, nem assino as esculturas que deixo na rua, mas quer dizer, o nome e a assinatura estão lá, na minha linguagem e atitude.


Como é o teu processo criativo e onde vais buscar as inspirações para as tuas peças?


Como o processo do poeta: é a Vida e a Beleza de estar vivo que me inspiram.



Referiste que “uma carreira artística de sucesso depende pelo menos de duas coisas: oportunidade e dinheiro”. Como sobrevive um artista que vive em anonimato e que vê as suas peças serem constantemente roubadas ou retiradas pelas entidades competentes?


No que toca a relações humanas (e não-humanas também!), não há nada que substitua a nossa presença. Eu privo com algumas pessoas, quando tenho de privar. Não com todas.


No dia em que vires as tuas peças associadas a empresas ou entidades sentes que vais estar a trair ideais que estiveram na base da tua arte?


Acho que me traí demasiadas vezes e de diferentes formas no passado. Sei muito bem o que isso significa e as consequências que isso tem. Sinto-me vacinado. A Vida é a grande professora. Dificilmente voltarei a trair-me.


Qual é a tua peça preferida?


São todas importantes para mim. Todas nasceram por um propósito. Todas foram uma necessidade.

Qual é aquela que te falta fazer (pela complexidade, tamanho, local, …)?


Ainda mal comecei. Ainda estou no início.



Quanto tempo investes, em média, nas tuas peças (para depois desaparecerem num ápice)?


Depende da obra. Todas envolvem grandes investimentos. O meu compromisso com a Escultura é visceral. Nem todas desaparecem num ápice. E mesmo as que desaparecem, hão de permanecer para a posteridade.


Qual foi a tua missão mais arriscada até hoje?


A instalação da “chaleira que pensava que podia ser invisível” no início da A5, em Monsanto. Claramente uma das missões mais inconscientes que fiz na vida.



Como classificas o panorama atual da arte em Portugal?


Não me atrevo a responder a essa pergunta :)


Qual é o teu top 3 de artistas portugueses?


Rui Chafes, Cabrita Reis e Alberto Carneiro.



E de artistas estrangeiros?


Maurizio Cattelan, Thomas Hirschhorn e Ugo Rondinone.


Com que artista gostarias de fazer uma peça conjunta?


Duvido muito que faça uma peça conjunta com outro artista. Uma exposição em conjunto, sim.


Não é coisa em que pense. Se algum dia acontecer é porque se proporcionou e porque fez sentido.



Pensas vir a desvendar o artista por trás das peças ou agrada-te o secretismo?


Gosto demasiado da minha privacidade. Apesar de o meu trabalho ser bastante colorido, prefiro trabalhar na sombra.

Sentes que o público irá estar sempre recetivo à tua arte e/ou que vais conseguir manter o fator surpresa?


Prefiro estar focado em continuar a fazer Escultura com a maior integridade que me for possível, do que focar-me na especulação do que pode ser a opinião do público em geral.



Quais são os teus planos / projetos futuros?


Estão sempre imensas coisas a acontecer. Não gosto muito de fazer promessas. No geral, quem promete muito, costuma fazer muito pouco.


Cumprimentos / agradecimentos?


Um forte abraço a todos aqueles e aquelas que têm a coragem e a ousadia de me seguir. Parece que começámos ontem, não é? :)


Fotografias / Photos: Superlinox & Da Chic Thief


ENG

Superlinox has been called by many the Portuguese Banksy. After taking the city of Setúbal, where he is from, by storm, the sculptor has never stopped surprising with his works strategically placed in urban centers. The important thing is to attract attention and get the message across and, with its sculptures and everyday objects painted in bright colors, Superlinox portrays the state of education, the shortage of housing, war or Freedom.

It was in 2021, when we started to leave confinement, that I was amazed by his piece that combined the innocence of a child with the brutality of a cannon, in an allusion to the suffering of children in war scenarios.

After 2 years, I finally managed to interview him.


How did the name Superlinox come about? During the early hours of the morning, playing wildlands online with a friend, a few years ago. Your epicenter is Setúbal (where you left due to “lack of opportunities”). Where do you plan to go with your art? In fact, before I started planting sculptures in Setúbal, I had already lived in Lisbon for several years. My epicenter has not been Setúbal for a long time. Maybe it never was either. Neither will Lisbon. My epicenter is my soul and my heart. Everything else is relatively secondary. They refer to you as Banksy from Setubal. How do you feel about the comparison? For me, Banksy represents the true definition of what I believe Street Art should be. I take it as a huge compliment, obviously. However, I'm not Banksy and I don't want to be anything other than myself. Our identity is our most precious asset. You have a degree in Fine Arts, in Sculpture. Is art what you always wanted to do? When I entered the Faculty of Fine Arts, I was a teenager like any other: I believed that after higher education I would find a job. For this reason, my initial option was communication design. However, I got mixed up in the geometry exam and didn't achieve a high enough score to get into design. They told me: “what’s important is getting into college, it doesn’t matter what course”. I ended up getting into Sculpture, a universe that was completely unknown to me. Meanwhile I fell in love with Sculpture and my whole life started to change.


You grew up in the world of “cursed” graffiti. What made you take the leap into this “guerrilla art”?


Graffiti when it's cursed is when it's good and true! It was never exactly the Hall of Fame that inspired me to do Graffiti. For me, Graffiti is above all an attitude and a mindset. Before being painting, it is action or performance. Isn't what I've been doing on the street with sculpture Graffiti? I enjoy the freedoms to create the sculptures I want; to install them where you want and when you want. Graffiti does not exist without several impulses for personal emancipation. It's true, street bombing is done on site and generally results in the more or less rigorous typographic elaboration of a name (tag). I don't work with typography, nor do I sign the sculptures I leave on the street, but I mean, the name and signature are there, in my language and attitude.


What is your creative process like and where do you get inspiration for your pieces?


Like the poet's process: it is the Life and Beauty of being alive that inspire me.


You mentioned that “a successful artistic career depends on at least two things: opportunity and money”. How does an artist who lives in anonymity survive and sees his pieces constantly being stolen or removed by the competent authorities?


When it comes to human relationships (and non-human ones too!), there is nothing that can replace our presence. I deprive myself with some people, when I have to deprive them. Not with all.


The day you see your pieces associated with companies or entities, do you feel like you are betraying ideals that were the basis of your art?


I think I betrayed myself too many times and in different ways in the past. I know very well what that means and the consequences it has. I feel vaccinated. Life is the great teacher. I will hardly betray myself again.


What is your favorite piece?


They are all important to me. They were all born for a purpose. They were all a necessity.


What is the one you still need to do (due to its complexity, size, location, …)?


I've barely started yet. I'm still at the beginning.


How much time do you invest, on average, in your pieces (and then disappear in a flash)? It depends on the work.


They all involve large investments. My commitment to Sculpture is visceral. Not all of them disappear in a flash. And even those that disappear will remain for posterity.


What was your riskiest mission to date?


The installation of the “kettle that I thought could be invisible” at the beginning of the A5, in Monsanto. Clearly one of the most unconscious missions I've done in my life.


How would you classify the current art scene in Portugal?


I don't dare answer that question :)


What is your top 3 Portuguese artists?


Rui Chafes, Cabrita Reis and Alberto Carneiro.


And foreign artists?


Maurizio Cattelan, Thomas Hirschhorn and Ugo Rondinone.


Which artist would you like to do a joint piece with?


I very much doubt that I will do a joint piece with another artist. A joint exhibition, yes.


It's not something I think about. If it ever happens, it's because it was provided and because it made sense.


Do you plan on discovering the artist behind the pieces, or do you like secrecy? I like my privacy too much. Although my work is quite colorful, I prefer to work in shadow. Do you feel that the public will always be receptive to your art and/or that you will be able to maintain the surprise factor? I prefer to be focused on continuing to make Sculpture with as much integrity as possible, rather than focusing on speculating on what the general public's opinion might be. What are your future plans/projects? There are always lots of things happening. I don't really like making promises. In general, those who promise a lot tend to do very little. Greetings/thanks? A big hug to all those who have the courage and daring to follow me. It seems like we started yesterday, doesn't it? :)

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19 nov. 2023
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