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Foto do escritorDa Chic Thief

Entrevista #133 SALTO

PT

Salto foi mais um writer que eu descobri a fotografar na minha zona. Tinha fotos de duas peças dele que tinha descoberto no Muxito, mas só depois de algum tempo é que cheguei ao autor.



É na linha da Azambuja que este membro dos Mkos prefere deixar as suas peças compostas por polígonos coloridos ao estilo do vitrinismo (no qual se formou), prestando homenagem aos writers locais (as suas maiores influências).



Fiquem com a sua entrevista.


Qual o significado do teu tag?


O tag salto apareceu a partir do momento em que quis dedicar-me mais a criar em estúdio e não só letras. Anteriormente, tinha outro tag, mas não o quero misturar com o que faço atualmente. Então, decidi dar o salto!


No início o salto era apenas um nome para assinar as peças, o meu objetivo com este tag não era metê-lo na rua em letras mas sim em formas e abstratos.


Não me lembro especificamente onde surgiu, mas dei por mim a começar a desenhar salto e com o desenvolvimento do tag comecei a trocar as letras e ainda fiquei mais apaixonado quando percebi que a palavra salto dá para tanta coisa; talso, otlas, atlos ou atols são alguns exemplos de como ando a curtir à grande o tag salto (e ainda há muito mais para explorar).


Tens formação em arte?


Formei-me em vitrinismo. Nesses três anos, tive a disciplina de desenho e a disciplina de vitrinismo, tínhamos de fazer montras e ter ideia criativas para cada uma delas. Era tudo muito prático e isso foi o início para muita coisa.



Quando começou o teu interesse pelo graffiti e quais foram as tuas influências na altura?


O meu interesse começou em 2009, quando conheci o cis, que foi um influência gigante para mim, na altura. Ele pintava comboios e era um writer relativamente ativo. Tinha um álbum de fotos com os graffs todos que fazia e eu vi esse álbum 10x ao dia, eu consumia tudo o que ele fazia. Comecei a ouvir rap quando consegui ter acesso a uma pen que ele tinha (o primeiro som dessa lista era dança dos vândalos, com o keso e o barrako27, e tinha também o serviço público, dominos família, halloween, sam the kid, dealema). Transferi tudo para um mp3 e era consumir aquilo em loop e sair à rua para ir ver graffiti, consumia hip hop 24 horas por dia e sonhava com isso.


Tenho a sorte de ter sido criado na linha da Azambuja que é uma zona muita rica em bom graffiti. Na altura, via muito os otms, os ncb, o sore e o kel mandavam roladas e graffs pesadíssimos (são grandes writers), o toks metia graffs em spots incríveis com uma agilidade de style muito fodida, o alrte com graff em todo o lado sempre com grandes spots e letterings pesados como hoje ainda continua a fazer, o vulto, o tosco, atsok, o seyr, o seco, sage, o rak mostrou-me o graff oldchool, os yws, o rest e crack que já mandavam grandes cenas, a parede da iriax onde me lembro de passar tardes a ver os graffs e era um abuso, a parede da praça de Santa Iria que tinha grandes cenas, ir para a linha ver graffs (estou a falar de 2013/2014). Cresci rodeado de graffiti, tive a sorte de viver numa zona que sempre teve isso muito vincado na rua e onde cada writer tem o cuidado de fazer com que isso não acabe e têm o gosto de  transmitir isso para as gerações mais novas, porque o importante é existir sempre graffiti puro. E hoje em dia sou um sortudo por pintar ao lado das minhas influências e poder partilhar momentos com essas pessoas.


Com o decorrer da história e do tempo, fui conhecendo outras pessoas que tinham as mesmas paixões que eu, que é o caso do aske, do cusk, o role, o doen, o kayer, reso e o raid. São pessoas que ainda hoje me influenciam. O kayer é o meu brother / companheiro de pintura de anos, a maior parte de graff ilegal que fiz foi lado a lado com ele, e o cusk passar uma tarde a pintar ao lado dele é chegar a casa com um sorriso na cara. Em 2017 conheci a riddle que é uma das minhas maiores influências como pessoa e artista.


Pertences a alguma crew?


Mkos.



Quais são os teus spots / cidades preferidos?


Fora de Portugal, onde gostei mais de pintar foi em Barcelona e Bruxelas.


Sítio mais bonito em que já estive foi nos Açores.


Sítios favoritos para pintar: linha da Azambuja e Margem Sul. 


Numa palavra, como descreves o teu estilo?


Manhoso.



O que puxa por ti hoje em dia? Wall of fame, street bombing ou train bombing?


Tudo cativa, dependendo do mood. Tento estar sempre ativo em todas as frentes. Se estiver a pintar muitos Hall of fames vou-me cansar, porque estou sempre na mesma vibe e gosto de ir variando. Mas street bombing tem de estar sempre presente. Tudo porque o que eu quero é pintar e espero chegar aos 50 com mesma mentalidade e agilidade! 


Como é o teu processo criativo e onde vais buscar as tuas inspirações?


O meu processo criativo resume-se a eu estar bem psicologicamente e fisicamente e isso acontece quando pratico desporto, quando estou com amigos, quando estou em contacto com a natureza, quando vivo a vida no presente sem pressa para criar e ser criativo. É quando consigo ser mais criativo e observador com tudo o que rodeia e, quando isso acontece, eu transformo tudo o que vejo ou ouço naquilo que quero, seja em papel, formas ou expressão.



Quais são os ingredientes para um bom dia de pinturas?


Amizade e respeito.


Pintas com sketch ou freestyle?


Freestyle sempre.



O que toca na tua playlist quando pintas?


Depende muito do mood e do spot onde estou. Por vezes gosto só de estar em silêncio, ouvir o que o spot tem para dar e usufruir ao máximo do ambiente em que estou. Quando ouço música é variado, mas ouço muito rap português, espanhol, francês e americano e música portuguesa variada. 


Também pintas em telas e fazes esculturas. Já fizeste alguma exposição?


Sim, já fiz um exposição em 2022, que tinha como nome "Comistura" e foi um experiência muito fixe. 



Como descreves o panorama atual do graffiti em Portugal?


Atualmente, considero que as coisas estão boas, há pessoal a pintar na rua, há Hall of fames e os trains aparecem pintados. Há pessoal a pintar em bons spots. Não é aquela febre louca mas há tinta na rua, há sempre um tag novo, uma cenas novas a aparecer, e isso é o mais importante. Mas curtia que aparecesse pessoal novo a pintar com fome, com styles malucos, com qualidade e com respeito, para agitar um pouco as coisas e para não serem sempre os mesmos. 


Qual é o teu top 3 de writers portugueses?


Alrte, ble, sore.



E de writers estrangeiros?


Mser, skel, rams.


Com que writer / artista gostarias de fazer uma peça conjunta?


Horfe.


Fotografia / Photo: Paulo Rocha


Qual é a tua peça favorita?


Foi o meu primeiro double deck azul com traço a branco fundo roxo. Foi o graff que criou mais sentimento em mim, pela história, pela pessoa que estava comigo pelo graff em si. Estava grande, tinha qualidade e ficou a girar durante muito tempo. Foi o realizar de um sonho que era meter um train a girar na minha zona com uma cena minha.


Quais são os teus planos / projetos futuros?


É viver da pintura, fazer exposições dentro e fora de Portugal e conseguir, cada dia, ser mais sensível e transmitir com mais perícia o que sinto, seja de que maneira for. Tornar-me um artista respeitado e conhecido mundialmente! E continuar a pintar na rua e a espalhar o meu nome sempre! 



Tens alguma história que queiras partilhar?


Gostei muito de ter passado por uma história que se passou em Bruxelas. Quando viajamos vamos com o espírito mais aberto e com outra atitude e depois de passar a noite a beber cerveja com muito álcool ainda nos ajuda a ficar mais soltos. Nessa noite, já tínhamos decidido que íamos pintar uma linha, era a última noite naquela cidade. Damos por nós a mandar tags em todo o lado quando, de repente, aparecem uns bacanos a falar connosco e criámos logo ali uma ligação. Eles tinham vindo de Amesterdão, começaram a falar que também pintavam quando eram mais putos (eles deviam ter uns 30 anos, na altura) e acabaram por ir connosco para a linha. Ainda mandaram uns tags, andámos bastante, o spot quanto mais andávamos mais escuro ficava e começámos a entrar por uns túneis que iam dar a uma estação. Eles todos felizes a tirar fotos, super boa onda, e no dia a seguir apanhámos o mesmo voo e eles nem nos reconheceram ou então não quiseram (risos).


Props?


Props a todas a pessoas que mantêm os sonhos vivos dentro delas, a todos aqueles que lutam e trabalham para fazer coisas novas virem com frescura. Que nunca desistam do que querem e que tornem os seus sonhos palpáveis!


Fotografias / Photos: Salto


ENG

Salto was another writer that I discovered photographing in my area. I had photos of two of his pieces that I had discovered in Muxito, but it was only after some time that I discovered the author.


It is in line with Azambuja that this member of Mkos prefers to leave his pieces composed of colored polygons in the style of window dressing (in which he trained), paying homage to local writers (his biggest influences).


Here is his interview.


What does your tag mean?


The salto tag appeared when I wanted to dedicate myself more to creating in the studio and not just lyrics. Previously, I had another tag, but I don't want it mixed with what I currently do. So, decide to take the leap!


At first the jump was just a name to continue the pieces, my objective with this tag was not to put it out on the street in letters but in shapes and abstracts.


I don't remember specifically where it came from, but I found myself starting to draw heels and with the development of the tag I started changing the letters and I became even more passionate when I realized that the word jump can mean so many things; talso, otlas, atlos or atolls are some examples of how I'm enjoying tag jumping in a big way (and there's still a lot more to explore).


Do you have training in art?


I graduated in window dressing. In those three years, I had a drawing class and a window dressing class, we had to create windows and come up with creative ideas for each of them. It was all very practical and that was the beginning of a lot of things.


When did your interest in graffiti begin and what were your influences at the time?


My interest began in 2009, when I met cis, who was a huge influence on me at the time. He painted trains and was a relatively active writer. He had a photo album with all the graffiti he made and I saw this album 10 times a day, I consumed everything he did. I started listening to rap when I managed to access a pen he had (the first song on that list was dance of the vandals, with keso and barrako27, and there was also public service, dominos familia, halloween, sam the kid, dealema) . I transferred everything to an mp3 and consumed it on loop and went out to the street to see graffiti, I consumed hip hop 24 hours a day and dreamed about it.


I am lucky to have been raised in Azambuja, which is an area rich in good graffiti. At the time, I saw a lot of otms, ncb, sore and kel, sending out really heavy graffs (they're great writers), toks putting graffs in incredible spots with a really fucked-up style agility, alrte with graff everywhere always with large spots and heavy letterings as it continues to do today, the bulge, the rough, atsok, the seyr, the seco, sage, the rak he showed me the oldschool graff, the yws, the resto and crack which were already creating great scenes, the wall of riax where I remember spending afternoons watching the graffs and it was an abuse, the wall of the Santa Iria square which had great scenes , go to the see graffs line (I'm talking about 2013/2014). I grew up surrounded by graffiti, I was lucky enough to live in an area that has always had this very prominent on the streets and where each writer is careful to ensure that it doesn't end and they have the pleasure of passing this on to the younger generations, because the important thing is is to always have pure graffiti. And nowadays I'm lucky to paint alongside my influences and be able to share moments with these people.


As history and time progressed, I met other people who had the same passions as me, which is the case of aske, cusk, role, doen, kayer, reso and raid. These are people who still influence me today. Kayer is my brother/painting partner for years, most of the illegal graffiti I did was side by side with him, and spending an afternoon painting alongside him is like coming home with a smile on your face. In 2017 I met riddle, who is one of my biggest influences as a person and artist.


Do you belong to a crew?


Mkos.


What are your favorite spots/cities?


Outside of Portugal, where I enjoyed painting most was in Barcelona and Brussels.


The most beautiful place I've ever been was in the Azores.


Favorite places to paint: Azambuja line and Margem Sul. 


In a word, how do you describe your style?


Sly.


What drives you these days? Wall of fame, street bombing or train bombing?


Everything captivates, depending on the mood. I try to always be active on all fronts. If I'm painting too many Hall of Fames I'll get tired, because I'm always in the same vibe and I like to change things up. But street bombing must always be present. All because what I want is to paint and I hope to reach 50 with the same mentality and agility! 


What is your creative process like and where do you get your inspiration?


My creative process comes down to me being well psychologically and physically and this happens when I play sports, when I'm with friends, when I'm in contact with nature, when I live life in the present without rushing to create and be creative. It's when I can be more creative and observant with everything that surrounds me and, when that happens, I transform everything I see or hear into what I want, whether in paper, shapes or expression.


What are the ingredients for a good painting day?


Friendship and respect.


Do you paint with sketch or freestyle?


Freestyle always.


What plays on your playlist when you paint?


It really depends on the mood and the spot where I am. Sometimes I just like to be in silence, listen to what the spot has to offer and make the most of the environment I'm in. When I listen to music it's varied, but I listen to a lot of Portuguese, Spanish, French and American rap and a variety of Portuguese music. 


You also paint on canvas and make sculptures. Have you ever had an exhibition?


Yes, I already had an exhibition in 2022, called "Comistura" and it was a really cool experience.


How would you describe the current graffiti scene in Portugal?


Currently, I think things are good, there are people painting in the streets, there are Hall of Fames and the trains appear painted. There are people painting in good spots. It's not that crazy fever but there's paint on the street, there's always a new tag, new scenes appearing, and that's the most important thing. But I would like new people to appear and paint with hunger, with crazy styles, with quality and with respect, to shake things up a little and not always be the same. 


What is your top 3 Portuguese writers?


Alrte, ble, sore.


And foreign writers?


Mser, skel, rams.


Which writer/artist would you like to do a joint piece with?


Horfe.


What is your favorite piece?


It was my first blue double deck with a white line and a purple background. It was the graff that created the most feelings in me, for the story, for the person who was with me, for the graff itself. It was big, had quality and was running for a long time. It was the realization of a dream, which was to have a train running in my area with my scene.


What are your future plans/projects?


It means making a living from painting, holding exhibitions inside and outside Portugal and being able, every day, to be more sensitive and to convey with more expertise what I feel, in whatever way. Becoming a respected and known artist worldwide! And continue painting on the streets and spreading my name always!


Do you have a story you want to share?


I really enjoyed going through a story that took place in Brussels. When we travel we go with a more open mind and a different attitude and after spending the night drinking beer with a lot of alcohol it still helps us to feel looser. That night, we had already decided that we were going to paint a line, it was the last night in that city. We find ourselves sending tags everywhere when, suddenly, some guys appear talking to us and we immediately create a connection. They had come from Amsterdam, started talking about how they also painted when they were younger (they must have been around 30 years old at the time) and ended up going to the line with us. They even sent some tags, we walked a lot, the spot the more we walked the darker it got and we started to enter some tunnels that led to a station. They were all happy taking photos, a great vibe, and the next day we caught the same flight and they didn't even recognize us or didn't want to (laughs).


Props?


Props to all the people who keep their dreams alive within them, to all those who fight and work to make new things come fresh. May they never give up on what they want and make their dreams tangible!

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