top of page
Foto do escritorDa Chic Thief

Entrevista #34 FILHO BASTARDO

Atualizado: 7 de nov. de 2021

PT

Filho Bastardo é um artista gráfico do Porto que tem tomado de assalto as paredes das ruas da cidade, para espalhar a sua mensagem.


Depois de uma fase inicial em que usou a técnica paste-up (com cartazes que combinavam textos e fotografias de sua autoria), o artista voltou-se para o stencil.


Ao longo do seu percurso, travou conhecimento e pintou com STRA, com quem diz ter desenvolvido as suas skills ao nível da técnica.



As suas obras, tal como as do artista luso-francês, expressam a sua crítica social e política. Alguns dos seus principais visados são Ricardo Salgado, André Ventura ou o Presidente da Câmara do Porto. Os embates com Rui Moreira já lhe valeram ter um dos seus trabalhos apagado, pelos serviços camarários, em apenas 2 dias, no mesmo muro onde ficaram outros três pintados (estes sem qualquer conotação política).


Fiquem a conhecê-lo e às suas obras.



Qual é o significado do teu tag?


O meu tag é uma história de família densa... Não sou um filho fora do casamento propriamente, mas sou o primeiro filho do segundo casamento do meu pai, o qual foi foi um casamento muito criticado por parte da família, inclusive por parte da família da minha mãe que escolheu casar-se com um homem divorciado.



Tens formação em arte?


Tenho. Tenho formação em cinema e televisão.



Quando começou o teu interesse pelo(a) graffiti / street art e quais foram as tuas influências na altura?


O meu interesse começou há mais de vinte anos, mas nessa altura não passou de uns quantos esboços em cadernos e apenas uma experiência em stencil influenciado pela ascensão do Banksy. Depois, comecei a passar algum tempo na Dedicated (com a Rafi) e a conviver com alguns artistas como um não artista da área. E foi quando comecei a ponderar experimentar.



O que te levou ao stencil? Usa-lo como uma arma de arremesso, num ataque aos poderes instituídos, ou como uma ferramenta, para passar a mensagem e despertar as consciências?


Não sei muito bem... acho que sempre vi esta técnica como uma ferramenta inteligente que permite expor ideias publicamente, de forma simples, rebelde e com uma estética muito própria. Quer como arma de arremesso, quer como difusão de ideias. É uma técnica versátil que permite abordagens de muitos ângulos diferentes.



Quais são os teus locais / cidades favoritos? Já pintaste noutros países?


Como isto evoluiu muito durante a corrente pandemia, só tive oportunidade de trabalhar pelo Porto, que é onde vivo. O centro do Porto é muito apelativo porque os trabalhos têm muita exposição. Mas agora, com a acalmia, ando a pensar visitar outras cidades do nosso país. E quem sabe, um dia, internacionalizar. O alcance do projecto tem sido muito maior do que a expectativa que eu tinha, mas acho que ainda tenho muito que aprender e amadurecer, portanto tento vive-lo um passo de cada vez, um projecto de cada vez.



Já fizeste alguma exposição? Tens alguma prevista em breve?


Curiosa esta pergunta. Eu já usava este personagem do Filho Bastardo há muitos anos, nas redes sociais, como um projecto que juntava fotografias e poemas da minha autoria. Nessa altura sim, tive propostas para expor algumas das minhas fotos mas nunca chegou a acontecer. Entretanto, o projecto passou para a rua, num formato paste-up, e rapidamente se transformou nesta intervenção crítica, política e social através do uso do stencil. Nunca me propuseram expor, mas também não sei se quero. Tenho ideia de que, para manter a essência do projecto, preciso de independência, de não ficar agarrado a nada. E por isso também não penso vender peças. Fiz algumas peças para espaços fechados, que ofereci, mas acho que o que me move de facto é a rua.


Política, religião, meio ambiente, novas tecnologias ou consumismo são alguns dos temas retratados nas tuas obras. Qual é o teu favorito e quais serão os próximos?


Eu considero-me um humanista, com um gosto pela psicologia e a sociologia. Mas essa divisão dos temas nem faz muito sentido para mim, porque tudo é política. A política são conjuntos de ideias sobre a gestão das vidas em sociedade e nos meios que as rodeiam. Não são só os partidos políticos, nem só os políticos de profissão. Todos temos ideias sobre as pessoas e os animais, pelo que todos somos políticos de alguma forma. E, portanto, o meu tema favorito é a política, no sentido em que abordo a maioria dos temas sociais do momento.


Não faço ideia de quais serão os próximos trabalhos. A construção das ideias e a sua preparação dependem sempre muito do estímulo que lhes dá azo e também do timing em que acontecem. Mas posso dizer-te que tenho um trabalho sobre o músico Pablo Hasél pronto para pintar e dois trabalhos ainda em fase de preparação, um novo sobre o campo de Moria e outro sobre o BES.


Como é o teu processo criativo e onde vais buscar as inspirações para as tuas obras?


Do ponto de vista da ideia, ela pode surgir das mais variadas formas. De forma direta, às vezes, da leitura de uma notícia, de uma opinião, de uma conversa. Ou de forma indireta, por associação de ideias, por conclusão de várias premissas depois de ler várias notícias ou de pensar sobre uma conversa. Na parte técnica, a minha maior influência foi o STRA, com quem aprendi algumas técnicas e desenvolvi os meus skills.



O desenho depois depende do tema, mas comum a todos é partir de uma ou mais fotografias, trabalhadas em Photoshop até ficarem com o aspecto de um stencil finalizado. Em seguida, projeto essa imagem numa parede e desenho em folhas de papel A0 (uma ou mais, dependendo do tamanho que quero ou das camadas que pretendo). Depois apago o projetor e altero o desenho a meu gosto, dando-lhe um toque mais pessoal mas também aproximando-o mais de um desenho.



Para o stencil, eu corto o desenho e uso uma técnica que aprendi com um artista americano. Em vez de fazer as chamadas “pontes” para manter todas as partes do stencil unidas, eu colo uma rede mosquiteira ao papel cortado, o que permite usar um papel de impressão normal mas poder usar o stencil várias vezes.


Preferes pintar sozinho ou em grupo?


Eu gostava muito de pintar com o STRA, infelizmente, não é possível fazê-lo agora. Mas prefiro pintar com alguém, pela confluência de ideias e também pela proteção que te dá. Sozinho estás hiper vigilante e mais inseguro, cometes mais erros nos trabalhos.


O que toca na tua playlist quando pintas?


Neste momento, têm tocado muito Pablo Hasél e Emicida.


Qual é o teu top 3 de artistas / writers portugueses?



E de artistas / writers estrangeiros?



Com que artista / writer gostarias de fazer uma obra conjunta?


Mais Menos, Banksy.



Qual é o teu melhor trabalho?


Ui, não faço ideia. Quem terá que o dizer são as pessoas. Para mim é difícil dizer, sempre que faço um trabalho acho que é o melhor e passado algum tempo já não gosto tanto dele. Talvez o que goste mais seja o do Maradona, não pelo desenho mas porque tinha acabado de conhecer o STRA e estava num momento de grande vertigem criativa, muito entusiasmado. Então resolvi arriscar mais com um projecto muito ambicioso, grande e com cores. Talvez por isso o veja como um marco de mudança no trajeto do projeto.


Como descreves o panorama atual do graffiti e da street art em Portugal? Que diferenças encontras entre o Norte / Grande Lisboa e Sul?


Tenho dificuldade em responder a esta pergunta porque sou um outsider, não tenho crew, os meus amigos não são artistas e eu próprio não sigo a cena com muita atenção.


Quais são os teus planos / projetos futuros?


Só quero poder continuar a pintar com liberdade de pensamento e de movimentos.


Tens alguma história que queiras compartilhar?


Uma vez, estava a pintar e parou uma carrinha da polícia de intervenção. Saíram e um dos agentes pediu-me que me erguesse (estava a arrumar as coisas que tinha acabado de pintar) e o CC. Disse-lhe que me tinha esquecido em casa. Perguntou-me o nome. Perguntou-me se já tinha pintado outros nessa noite. Perguntou-me se tinha mais frases ou era só desenhos. Abri a capa e deixei-o espreitar. Ele voltou a olhar para a frase que eu tinha acabado de pintar, leu-a demoradamente, olhou para mim e disse: “Gostei da frase”. Piscou-me o olho e estendeu-me o punho. Choquei com ele.


Entraram na carrinha e arrancaram. Foi meio surreal, estava preparado para muita coisa mas não para uma reação deste género.


Props?


Props para a Rafi, para o STRA e para todos aqueles que me têm ajudado a crescer, a evoluir e a viver esta aventura.


Fotografias / Photos: Filho Bastardo & STRA


ENG

Filho Bastardo is a graphic artist from Porto who has taken over the walls of the city's streets to spread his message.


After an initial phase in which he used the paste-up technique (with posters that combined texts and photographs of his own authorship), the artist turned to stencil.


Along his way, he became acquainted and painted with STRA, with whom he says he developed his skills at the technical level.


His works, like those of the Portuguese-French artist, express his social and political criticism. Some of his main targets are Ricardo Salgado, André Ventura or the Mayor of Porto. The clashes with Rui Moreira have already earned him one of his works erased, by the city council, in just 2 days, on the same wall where three others were painted (these without any political connotation).


Get to know him and his works


What is the meaning of your tag? My tag is a dense family story... I'm not an out-of-wedlock child, but I'm the first child of my father's second marriage, which was a much criticized marriage by the family, including by my mother's family who chose to marry a divorced man.

Do you have an art background? I have. I have a background in cinema and television.

When did it start your interest in graffiti / street art and what were your influences at the time? My interest started over twenty years ago, but back then it was just a few sketches in notebooks and just a stencil experience influenced by Banksy's rise.


Then I started spending some time at Dedicated (with Rafi) and living with some artists as a non-artist in the area. And that's when I started thinking about trying it out.


What brought you to the stencil? Do you use it as a throwing weapon, in an attack on the powers that be, or as a tool to get the message across and awaken consciences?


I'm not sure... I think I've always seen this technique as a smart tool that allows you to publicly expose ideas, in a simple, rebellious way and with a very unique aesthetic. Either as a throwing weapon or as a dissemination of ideas. It is a versatile technique that allows approaches from many different angles.


What are your favorite places / cities? Have you ever painted in other countries?


As this evolved a lot during the current pandemic, I only had the opportunity to work in Porto, which is where I live. The center of Porto is very appealing because the works have a lot of exposure. But now, with the calm, I'm thinking about visiting other cities in our country. And who knows, one day, internationalize. The scope of the project has been much greater than what I had expected, but I think I still have a lot to learn and mature, so I try to live it one step at a time, one project at a time.


Have you ever had an exhibition? Do you have one coming soon?


This question is curious. I had been using this Filho Bastardo character for many years, on social media, as a project that brought together photographs and poems of my own making. At that time yes, I had proposals to exhibit some of my photos but it never came to pass. However, the project went to the street, in a paste-up format, and quickly transformed itself into this critical, political and social intervention through the use of the stencil. They never proposed me to expose, but I don't know if I want to either. I have an idea that, in order to maintain the essence of the project, I need independence, not being attached to anything. And that's why I don't plan on selling my works either. I made some pieces for closed spaces, which I offered, but I think that what really moves me is the street.


Politics, religion, environment, new technologies or consumerism are some of the themes portrayed in your works. Which one is your favorite and which ones will be next? I consider myself a humanist, with a taste for psychology and sociology. But this division of themes doesn't even make much sense to me, because everything is political. Politics are sets of ideas about the management of lives in society and in the environments that surround them. It's not just political parties, not just professional politicians. We all have ideas about people and animals, so we are all political in some way. And so my favorite topic is politics, in the sense that I address most of the social issues at the moment. I have no idea what the next jobs will be. The construction of ideas and their preparation always depend a lot on the stimulus that gives rise to them and also on the timing in which they happen. But I can tell you that I have a work on the musician Pablo Hasél ready to paint and two works still in preparation, a new one on Moria's field and another on BES. How is your creative process and where do you get the inspiration for your works? From the point of view of the idea, it can arise in many different ways. Directly, sometimes, from reading a news story, an opinion, a conversation. Or indirectly, by associating ideas, by concluding several premises after reading a lot of news or thinking about a conversation. On the technical side, my biggest influence was STRA, with whom I learned some techniques and developed my skills. The design then depends on the theme, but common to all is to start with one or more photographs, worked in Photoshop until they look like a finished stencil. Then I project that image on a wall and draw on sheets of A0 paper (one or more, depending on the size or the layers I want). Then I turn off the projector and change the design to my liking, giving it a more personal touch but also bringing it closer to a design. For the stencil, I cut the design and use a technique I learned from an American artist. Instead of making so-called “bridges” to hold all the parts of the stencil together, I glue a mosquito net to the cut paper, which allows me to use normal printing paper but still be able to use the stencil multiple times.


Do you prefer to paint alone or in a group?


I really enjoyed painting with STRA, unfortunately it's not possible to do it now. But I prefer to paint with someone, for the confluence of ideas and also for the protection it gives you. Alone you are hyper vigilant and more insecure, you make more mistakes at work.


What plays on your playlist when you paint?


At the moment, Pablo Hasél and Emicida have been playing a lot.


What is your top 3 of Portuguese artists / writers?



And from foreign artists / writers?



Which artist / writer would you like to do a joint work with?


Mais Menos, Banksy.


What is your best work?


Hey, I have no idea. People will have to say it. It's hard for me to say, whenever I do a job I think it's the best and after a while I don't like it so much. Perhaps what I like the most is Maradona's, not because of the design but because I had just met STRA and was in a moment of great creative vertigo, very enthusiastic. So I decided to take more chances with a very ambitious project, big and with colors. Maybe that's why I see it as a milestone in the project's path.


How do you describe the current panorama of graffiti and street art in Portugal? What differences do you find between the North / Greater Lisbon and the South? I have difficulty answering this question because I'm an outsider, I don't have a crew, my friends aren't artists and I myself don't follow the scene very carefully. What are your future plans / projects? I just want to be able to continue painting with freedom of thought and movement. Do you have a story you want to share? Once, I was painting and stopped a police intervention van. They left and one of the agents asked me to get up (I was putting away the things I had just painted) and CC. I told him I had forgotten it at home. He asked me my name. He asked me if I had painted others that night. He asked me if I had more sentences or was it just drawings. I opened the cover and let him look. He looked back at the sentence I had just painted, read it for a long time, looked at me and said, "I liked the sentence." He winked at me and held out his fist. I bumped him. They got into the van and took off. It was kind of surreal, I was prepared for a lot but not for a reaction like this. Props? Props for Rafi, STRA and all those who have helped me to grow, evolve and live this adventure.

238 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

1 Comment

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
armandina_heleno
Sep 06, 2021

Excelente entrevista e excelente escolha!

O @filhobastardo tem preenchido as paredes com um ativismo e critica muito incisivos, sobretudo no Porto. "Tínhamos/temos" o Mais Menos, completam-se. É um privilégio lê-lo, registá-lo!


Esperamos que assim continue!

@urbanidadesstreetart


Like
bottom of page