Depois de alguns testes iniciais, Refém tem invadido a zona de Paço de Arcos com as suas peças.
O brasileiro, arquiteto de profissão, traz a arte no coração.
Amor, auto-empoderamento, política, religião, consumismo, cancro, censura, covid... tudo serve de mote a mais uma crítica / observação sobre a sociedade (hipócrita) em que nos encontramos, procurando abanar as consciências de quem passa pelas suas obras, no passo apressado dos afazeres diários.
Depois de ter fotografado diversas peças e ter chegado ao seu Instagram, a conversa com o autor correu ligeira.
Para o artista, a residir em Portugal há dois anos, o Refém é um "tuga com personalidade brasileira".
Questionado sobre a caveira cor de rosa, o autor referiu que sempre a quis usar "por ser um símbolo universal, independente de cor, raça e género, no fundo somos sempre iguais". Quanto ao rosa, ficou a dever-se ao facto de ser o único marcador que tinha à mão, mas que foi amor à primeira vista "porque o rosa chama bastante atenção na rua".
Qual o significado do teu tag?
O refém nasceu com a ideia de ser um auto retrato, um personagem que refletisse o que eu sinto. Arte é uma forma de comunicação e no meu trabalho isso é feito com 3 pilares, ele tem que ser simples, tem que passar uma mensagem e ser acessível. Simplicidade, as cidades estão cheias de informações, cores, luzes, poluição visual e eu vejo na simplicidade estética uma forma de alívio. Assim, eu decidi fazer um trabalho o mais simples possível, para que a “mensagem” seja o mais importante. Sendo simples e contando uma história, o meu trabalho chega no terceiro ponto, sendo acessível para qualquer pessoa fazer e contar a sua história em qualquer lugar.
Além da arquitetura, tens formação em arte?
Sou formado em Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade Gama Filho do Rio de Janeiro, mas a minha formação em artes vem do berço, pois minha mãe é artista plástica e cresci vendo ela trabalhar.
Que preferes? Arquitetura ou Arte?
Prefiro a arte. Eu adoro arquitetura mas se tivesse a cabeça que eu tenho hoje, no período em que tive que escolher entre um e outro, com certeza teria estudado artes.
O meu problema principal com a arquitetura é que ela não é acessível para todos, seja no sentido financeiro ou social. A arte me proporciona com o mínimo de recurso possível impactar a vida de outra pessoa e me proporciona ter uma voz, sem ter que depender de nada e ninguém.
Quando começou o teu interesse pelo graffiti / street art e quais foram as tuas influências na altura?
Acho que o meu primeiro contacto com street art foi com as frases do José Datrino, mais conhecido como Profeta Gentileza, no centro do Rio (o velho era um grande personagem, ahaha). Engraçado que, buscando isso agora na minha memória, vejo uma gigantesca influência do trabalho dele na minha vida e, consequentemente, na minha arte.
Outro artista que eu pude ver muita coisa de perto e ver seu crescimento como artista foi o grafiteiro Marcelo Eco.
Quais são os teus spots / cidades preferidos?
Sou fascinado por pintar e intervir em locais abandonados. Sem dúvida nenhuma, são meus locais preferidos. Para ser mais específico ainda, nas portas e janelas fechadas com tijolos!
Qual é o teu processo criativo e quais são as tuas inspirações?
Meu principal processo criativo é a absorção de um máximo de informação possível, principalmente através de leitura e música, depois vou tentando organizar isso de forma que consiga traduzir nos meus desenhos.
Pintas com sketch ou freestyle?
Minha forma de pintura é uma mistura, começo com rolo (ou rolinho, como se diz no Brasil), faço o crânio rosa com um stencil e as frases são freestyle com lata.
Preferes pintar sozinho ou em grupo?
Estou em Portugal há pouco mais de 2 anos e ninguém do meu círculo de amizades pinta, sempre saio sozinho para pintar, mas quando algum parente ou amigo vem me visitar eles saem de madrugada comigo! Inclusive, saímos na noite de Natal após o jantar em família (ahaha)!
O que toca na tua playlist quando pintas?
Rap, muito Rap, Kivitz, Biorki, AzoRap, Racionais MC, Carlão, O Rappa, Gabriel Pensador.
Qual é o teu top 3 de writers portugueses?
maismenos, André Saraiva, akacorleone, iamsomeart, Gonçalo Mar... não tem como colocar só 3.
E de writers estrangeiros?
Os Gemeos, Alex Senna, Millo, Daan Botlek, 1UP, Kaws... também não tem como só colocar 3 (ahaha).
Qual é o teu melhor trabalho?
Acho que o trabalho que mais gostei foi o que eu fiz para o dia de Finados, fazendo uma alusão aos princípios que deveriam dirigir nossa sociedade, mas parecem estar mortos.
Como descreves o panorama atual do graffiti / street art em Portugal? Quais as principais diferenças que encontras relativamente ao Brasil?
Acho que não é de hoje que o Brasil está fervendo politicamente e a diferença principal que eu vejo entre um país e o outro é o engajamento político dos artistas brasileiros que é enorme e aumenta a cada dia, a arte tem se tornado cada dia mais um ato político.
Tens alguma história que queiras partilhar?
Sim, eu conto todas elas em cada arte minha.
Props?
Props primeiramente a Jesus, por ter transformado a minha vida e por colocar em mim essa vontade de pintar, de contar histórias e, de alguma forma, levar esse amor pela street art avante e gratidão pela vida de meu pastor Anderson Silva, por ser um homem de Deus e fazer a diferença através do amor, numa sociedade com os valores totalmente invertidos.
Fotografias / Photos: Da Chic Thief & Refém
Obrigado e que venham mais obras, para deixarmos de ser reféns.
ENG
After some initial tests, Refém has invaded the Paço de Arcos area with its pieces.
The Brazilian, an architect by profession, has art in his heart.
Love, self-empowerment, politics, religion, consumerism, cancer, censorship, covid... everything serves as a motto for yet another critique / observation about the (hypocritical) society we find ourselves in, seeking to shake the consciences of those who pass by his works, in the hurried pace of daily affairs.
After having photographed several pieces and having arrived at his Instagram, the conversation with the author ran smoothly.
For the artist, who has been residing in Portugal for two years, the Refém is a "German with a Brazilian personality".
Asked about the pink skull, the author said that he always wanted to use it "because it is a universal symbol, regardless of color, race and gender, deep down we are always equal". As for the pink, it was due to the fact that it was the only highlighter I had on hand, but it was love at first sight "because pink attracts a lot of attention on the street".
What does your tag mean?
The hostage was born with the idea of being a self-portrait, a character that reflects what I feel. Art is a form of communication and in my work this is done with 3 pillars, it has to be simple, it has to convey a message and be accessible.
Simplicity, cities are full of information, colors, lights, visual pollution and I see aesthetic simplicity as a form of relief. So, I decided to make the job as simple as possible, so that the “message” is the most important thing. Being simple and telling a story, my work reaches the third point, being accessible for anyone to make and tell their story anywhere.
Besides architecture, do you have a background in art?
I have a degree in Architecture and Urbanism from Universidade Gama Filho in Rio de Janeiro, but my education in the arts comes from my cradle, as my mother is an artist and I grew up watching her work.
What do you prefer? Architecture or Art?
I prefer art. I love architecture, but if I had the mindset I have today, when I had to choose between one and the other, I would certainly have studied art.
My main problem with architecture is that it is not accessible to everyone, either financially or socially. Art provides me with as little resources as possible to impact someone else's life and gives me a voice, without having to depend on anything and anyone.
When did your interest in graffiti / street art start and what were your influences at the time?
I think my first contact with street art was with the phrases of José Datrino, better known as Prophet Gentileza, in downtown Rio (the old man was a great character, ahaha). It's funny that, looking for it now in my memory, I see the huge influence of his work on my life and, consequently, on my art.
Another artist that I was able to see a lot of up close and see his growth as an artist was the graffiti artist Marcelo Eco.
What are your favorite spots / cities?
I am fascinated by painting and intervening in abandoned places. Without a doubt, they are my favorite places. To be even more specific, on doors and windows closed with bricks!
What is your creative process and what are your inspirations?
My main creative process is absorbing as much information as possible, mainly through reading and music, then I try to organize it in a way that I can translate it into my drawings.
Do you paint with sketch or freestyle?
My way of painting is a mixture, I start with a roller (or roll, as they say in Brazil), I make the pink skull with a stencil and the phrases are freestyled with a can.
Do you prefer to paint alone or in a group?
I've been in Portugal for just over 2 years and no one in my circle of friends paints, I always go out alone to paint, but when a relative or friend comes to visit me they leave at dawn with me! We even went out on Christmas Eve after the family dinner (ahaha)!
What plays on your playlist when you paint?
Rap, lots of Rap, Kivitz, Biorki, AzoRap, Racionais MC, Carlão, O Rappa, Gabriel Pensador.
What is your top 3 of Portuguese writers?
maismenos, André Saraiva, akacorleone, iamsomeart, Gonçalo Mar... there's no way to put only 3.
What about foreign writers?
Os Gemeos, Alex Senna, Millo, Daan Botlek, 1UP, Kaws... there's also no way to just put 3 (ahaha).
What's your best piece?
I think the work I liked the most was the one I did for All Souls' Day, making an allusion to the principles that should guide our society, but seem to be dead.
How would you describe the current scenario of graffiti / street art in Portugal? What are the main differences you find in relation to Brazil?
I think it's not new that Brazil is boiling politically and the main difference I see between one country and the other is the political engagement of Brazilian artists, which is huge and increases every day, art has become more and more a political act.
Do you have a story you want to share?
Yes, I count all of them in every art of mine.
Props?
First, I proposed to Jesus, for having transformed my life and for putting in me this desire to paint, to tell stories and, in some way, to take this love for street art forward and gratitude for the life of my pastor Anderson Silva, for being a man of God and making a difference through love, in a society with completely inverted values.
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